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A imbecilidade do monarquista brasileiro

Se você faz uso da imagem bem construída de uma monarquia imaculada - onde os homens eram nobres, a classe política era honesta, o país era desenvolvido, a fé era respeitada e vivíamos em um período de vitórias consecutivas - tenho uma triste notícia: você é um boçal, um imbecil manipulado que foge de uma doutrina correndo de costas incessantemente atrás de outra que te faça sentir menos idiota.



Em grego, idios quer dizer “o mesmo”. Idiotes, de onde veio o nosso termo “idiota”, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga pela sua pequenez.
Olavo de Carvalho

O professor Luiz Gustavo Chrispino desabafou no seu último vídeo do canal Vlog do Professor sobre o comportamento que notou em grupos de monarquistas em que participou. Ele cita que monarquistas em geral estão mais preocupados em saber coisas fúteis como quem será a esposa de Dom Rafael ou qual será a capital do império. No entanto, sabemos que antes de escrever um texto devemos concebê-lo em nossa mente. Não podemos atravessar a carroça na frente do cavalo. René Descartes, em seu Discurso Sobre o Método, redige sua famosa frase “penso, logo existo”. Apesar da enorme importância deste texto histórico, principalmente para se provar um axioma que nem mesmo o mais cético dos homens poderá duvidar, ele apresenta uma falha de lógica muito comum e que é facilmente observada no pensamento popular, mesmo em quem nunca se sentou para ler um livro de filosofia: a falácia da inversão de causa. É impossível pensar sem primeiro existir. Primeiro se existe, depois se pensa.  O monarquista medíocre sempre comete o mesmo erro, crendo que primeiro instaura-se uma estrutura monarquista e somente depois criamos a noção real do que é a monarquia que ele mesmo não conhece.

         Em sua página no Facebook, Olavo de Carvalho escreveu:

Estou careca de saber que a monarquia parlamentar seria o melhor regime para o Brasil, como de fato o foi. Mas este não é o momento de levantar essa bandeira. Não há problema algum em defender a monarquia nesta hora, mas ninguém vai prestar atenção. O pessoal só quer botar a petezada para correr. O resto veremos depois.
Nossa monarquia não foi santa, mas foi incomparavelmente melhor que a República.

         Esta citação é de 2015, um período de alta crise política e econômica que de certa maneira dura até hoje, mesmo que mais amena. O filósofo explica que naquele momento não havia espaço para se propor uma monarquia, já que a única preocupação naquele período era impedir que a então presidente, Dilma Roussef, continuasse destruindo o país. Várias tentativas de levantar uma discussão sobre a restauração e propor referendo foram feitas, e como disse, não resultou em nada. A primeira discussão séria sobre esse tema no meio político nacional só foi ocorrer em 2017, com a ideia legislativa que monarquistas enviaram ao Senado como citado em outro texto deste blog (clique aqui para lê-lo). Da mesma forma, não é este o momento de se discutir coisas como “onde será a capital? Como será a constituição? Quem será o primeiro-ministro?” se nem mesmo temos uma maioria de monarquistas entre os brasileiros. 
         O período monarquista foi de extrema pobreza, alta taxa de analfabetismo, oligarquias sempre atrapalhando o avanço do país (mesmo que em menor dose que hoje), enlaces de políticos com a maçonaria e vários conflitos. Não foi nem de longe um período perfeito. Zygmunt Bauman descreve de forma brilhante o fenomeno que leva as pessoas a crerem que em algum momento do passado houve um periodo de perfeição, em seu livro Retrotopia. Quando um idiota tem sua busca pela utopia interrompida por um choque de realidade, ele abandona teorias infantis como a ilusão comunista e anarcocapitalista para buscar no passado esse maravilhoso mundo de fadas com o qual ele sempre sonha. Ele crê que se este mundo perfeito supostamente tivesse existido, o seu sonho de ter um paraíso na Terra poderia ser realizado. A mentalidade utopista continua, ele apenas crê que sua utopia não é mais ilusória, às vezes até mesmo, acredita que é cientificamente superior.

         Não sejam idiotas. Não passem a carroça na frente do cavalo e não busquem tentar ter razão e parecer um ser iluminado que tem todas as respostas para o sistema político brasileiro. Não tente tratar toda a realidade pelas regras do seu mundinho insignificante para uma realidade nacional. O coletivo é o conjunto de vários indivíduos e não de apenas um. É necessário ser sempre pragmático. 

Vlog do Professor - Reclamar ou não Reclamar??? Reclamei, Doaem quem Doer.





Comentários

  1. Fiquei feliz pela lembrança e agradecido por não ser uma voz solitária a clamar no Deserto.

    Vamos em frente, que atrás vem Idiotas inclementes

    Desculpe a troca do dito popular, foi para me manter no assunto.

    Luiz Gustavo Chrispino

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