Pular para o conteúdo principal

Análise da candidatura de Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Há monarquistas que sempre apresentam uma eventual constituição de um partido monarquista como uma possível saída para o impasse da restauração – hoje dependemos da boa vontade do congresso republicano para que tenhamos qualquer relevância no cenário político nacional. Mas será esse o caminho?




         S.A.R. Dom Luiz Philippe de Orleans e Bragança, sobrinho de S.A.I.R. Dom Luiz de Orleans e Bragança (atual chefe da casa imperial), teve pré-candidatura a deputado federal anunciada pelo Partido Novo. A candidatura gerou uma ruptura entre o movimento monarquista: há quem defenda e quem não considera uma boa notícia.
         Antes de detalhar a análise é importante dizer que Dom Luiz Philippe não é membro dinástico da Casa Imperial, ou seja, não pode herdar o trono. Como ele mesmo diz, já nasceu livre de qualquer compromisso com a agenda da realeza, apesar de apoiar uma restauração da monarquia por vias democráticas. Essa liberdade lhe foi conferida pela renúncia de S.A.R. Dom Eudes, seu pai, dos direitos sucessórios para ele e todos os seus descendentes.
Também é preciso entender que o processo democrático confere o direito à livre candidatura. Assim, pontuo as duas facetas desta notícia: a diferença entre a candidatura e a partidarização de um membro da realeza.
Em 1871 José de Alencar protestava contra uma novidade não muito bem vista no seu tempo: uma mulher teria direito a uma cadeira no Senado. A constituição de 1824 prevê a todos os príncipes da Casa Imperial o direito de assumir o cargo de senador assim que completarem 25 anos. Com isso, S.A.I. Dona Isabel ganhou o título de primeira senadora do Império. Sendo permitido aos príncipes herdeiros o direito ao senado, não há motivo para tornar a candidatura de um príncipe não-dinástico um problema. Afinal, Dom Luiz Philippe é um cidadão brasileiro comum, possuindo os mesmos direitos e deveres atribuídos a todos. A candidatura, desde que não partidarizada, é muito bem vinda.
A partidarização, por outro lado, é um tema extremamente complexo. Como no Brasil as candidaturas independentes são ilegais, o único modo de se eleger deputado federal é por meio de filiação partidária. É um dever indiscutível de um herdeiro do trono não adotar qualquer tipo de viés partidário. Um possível chefe de estado monarca deve apenas se preocupar com o bem supremo da nação e com a defesa constante da constituição. Mas como já dito, Dom Luiz Philippe não é herdeiro do trono.
Os direitos de candidatura e partidarização são evidentes uma vez que não há compromissos dinásticos. Mesmo assim, alguém que tenha o sobrenome Orleans e Bragança sempre levará o fardo da realeza e sua candidatura terá importante impacto no cenário monarquista nacional.
Um exercício de imaginação breve nos levaria a um cenário certo em caso de uma eleição do príncipe: sem dúvidas isso viraria uma notícia amplamente divulgada e exaustivamente discutida na mídia nacional e internacional. Afinal, não é sempre que um príncipe é eleito em um sistema republicano. Um mandato bem visto pela população poderia criar o cenário ideal para se debater a volta da monarquia seriamente em nível nacional. Mas caso o mandato seja mal visto, será impossível explicar fatos como o de Dom Luiz Philippe não ser membro da casa dinástica. A partidarização, mesmo que bem vista pela população, pode tirar o pouco apoio que a monarquia tem entre a esquerda, onde somente os progressistas assumem apoio a causa. Apoio entre socialistas e social-democratas é algo inviável com esta candidatura. E reitero para não haver duvidas: ele não é herdeiro, mas aos olhos da população, sempre será um príncipe como os outros.
Essa candidatura é tudo o que não queríamos quando nos posicionamos contra a criação de partidos monarquistas. Isso cria a ideia de que existe um único representante da monarquia no Brasil e o que ele disser será necessariamente a visão de todo representante desta forma de governo, o que não é verdade. Qualquer cidadão pode criar seu próprio movimento monarquista e perceber esta iniciativa como quiser. A liberdade é um principio que deve reger-nos.
Por outro lado, não podemos cercear a liberdade de ninguém proibindo-o de se candidatar. Se Dom Luiz irá candidatar-se, entendo que será necessário que mais e mais pessoas monarquistas também se candidatem, para deixar claro que o viés individual, característica da liberdade, não é o viés monarquista. A monarquia está acima de todo viés, sendo suprapartidária. Incentivo que Paulo Eduardo Martins (PSDB), Carlos Pimenta (PDT), Mateus Soares Neto (PSL), André Miranda (PSL) e qualquer monarquista que tenha visões políticas diferentes daquela proposta pelo Partido Novo se candidate. O Novo não é o partido da monarquia, mas apoiamos a candidatura de qualquer monarquista que por ele se candidate, desde que haja clara distinção entre a proposta suprapartidária da forma de governo e o partidarismo individualista. Assim, apoiamos também Gastão Reis (NOVO) e Ezequiel Novais (NOVO). A monarquia pode unir o Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Resposta à Folha de S. Paulo: PSDB não é renovação

Que a Folha de S. Paulo desde sempre trabalha com manchetes tendenciosas e de interpretação ambígua, isto nós sempre soubemos. Desta vez, no entanto, vemos o jornal sair do padrão e utilizar de seu jogo de palavreado para atacar um movimento em ascensão: o ainda pequeno – porém surpreendentemente forte – movimento monarquista. A matéria inicia com uma descrição de uma decoração supostamente luxuosa de um “salão de pé direito-alto” para dar a entender um velho estereótipo da monarquia – um sistema de aparente ostentação e privilégios. A Folha chega a dizer que o ambiente do encontro tinha “ares aristocráticos”, que, apesar da clara tentativa de usar pejorativamente a definição de aristocracia (um exemplo da ambiguidade em sua metodologia descritiva), era a mais pura verdade. A aristocracia é a eunomia do governo de poucos. Sendo o contraposto de oligarquia, a aristocracia é o governo dos bons governantes, onde somente aqueles que são capacitados e especializados em suas fu

A imbecilidade do monarquista brasileiro

Se você faz uso da imagem bem construída de uma monarquia imaculada - onde os homens eram nobres, a classe política era honesta, o país era desenvolvido, a fé era respeitada e vivíamos em um período de vitórias consecutivas - tenho uma triste notícia: você é um boçal, um imbecil manipulado que foge de uma doutrina correndo de costas incessantemente atrás de outra que te faça sentir menos idiota. Em g rego, idios quer dizer “o mesmo”. Idiotes , de onde veio o nosso termo “idiota”, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga pela sua pequenez. Olavo de Carvalho O professor Luiz Gustavo Chrispino desabafou no seu último vídeo do canal Vlog do Professor sobre o comportamento que notou em grupos de monarquistas em que participou. Ele cita que monarquistas em geral estão mais preocupados em saber coisas fúteis como quem será a esposa de Dom Rafael ou qual será a capital do império. No entanto, sabemos que antes de escrever um texto devemos concebê-lo em nossa me